Passada esta primeira fase, fomos atrás de um orientador, algum professor que gostássemos e também que pudesse nos ajudar. Escolhemos o professor Marquinhos e fomos logo falar com ele. O professor adorou a idéia e pelo pouco tempo que tínhamos para fazer um documentário, sugeriu que especificássemos um recorte temático, como por exemplo, a mente de um pedófilo. Adoramos! Começava então a nossa jornada para tentar entender a mente destas pessoas.
O primeiro passo foi achar um médico, um especialista, alguém que pudesse nos dar uma luz sobre o assunto. Através de um psiquiatra conhecido, conseguimos o contato de um especialista em abuso sexual. Por ser um médico conceituado e da Unicamp, tivemos que esperá-lo ter um tempo em sua agenda, coisa que demorou praticamente um mês. Estávamos adiantadas, ainda era o sétimo semestre, mas não queríamos deixar as coisas para a última hora. Temos pavor daquele desespero final.
Resolvemos então começar as entrevistas com a Adriana Camargo, uma mulher que coordena os ônibus para levar as famílias para visitarem os presos no Presídio de Serra Azul, localizado na região de Ribeirão Preto, no interior do Estado de São Paulo. Trata-se de um lugar onde só ficam pedófilos e estupradores e ela faz esse serviço porque é casada com um estuprador. Sobre ela, no entanto, queríamos saber mesmo sobre as histórias que ela trazia do presídio, uma vez que viu muita coisa e conviveu com muitos pedófilos durante estas visitas. A conversa foi ótima, ficamos abismadas com alguns fatos, coisas que a gente pensa que ninguém faria ou que nunca aconteceria, mas que fazem e acontece.
Finalmente conseguimos marcar a data para entrevistar o médico. Quando encontramos o doutor Antonio Jacinto, ficamos um pouco assustadas, afinal ele é uma autoridade no assunto. Mas a conversa fluiu muito bem e, até agora, foi a nossa melhor entrevista, pois ele nos deu muitas explicações sobre pedofilia e principalmente sobre o pedófilo.
Estávamos muito empolgadas e fomos marcando as outras entrevistas com as famílias de vítimas, um ex- presidiário, uma psicóloga também especialista em abuso sexual, um delegado e um repórter, mais precisamente o Márcio Campos, aquele que trabalha no Brasil Urgente e faz muitas matérias sobre pedofilia.
Não foi fácil. Teve um dia em que fomos até a casa da mãe de uma vítima na zona leste da capital paulista. Para nós, era um lugar muito longe, nos perdemos várias vezes, mas enfim chegamos. Chegando lá, adivinha? Ela tinha saído para levar o filho ao médico e esqueceu-se de avisar. Estávamos com o cinegrafista, todo o equipamento... Mas não teve jeito, tivemos que voltar para a faculdade e remarcar a entrevista.
Decidimos editar o documentário fora da faculdade, pois queremos um pouco de tranqüilidade. Tranquilidade esta, que foi abalada por uma notícia inesperada e desesperadora. Entregamos as seis fitas, com todas as entrevistas para o Fausto, o editor, poder começar o trabalho. Eis que ele liga falando que todas as fitas estavam com problema e não conseguia assistir! Gente, é o nosso TCC! Imaginem o desespero. Ficamos atordoadas com a possibilidade de perder todo o nosso material. Foram três dias até que tudo se resolvesse. Sem dúvida nenhuma, os três dias mais angustiantes das nossas vidas.
Tatiana Cavalin, 24, (tatinhafc@globo.com), trabalha em uma Produtora de Vídeos Comerciais. Verônica Mokarzel, 22, (vemokarzel@yahoo.com.br), é produtora do programa Brasil Urgente na TV Bandeirantes.
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